Nos próximos 20 anos, a depressão deverá
tornar-se a doença mais comum do mundo, atingindo mais pessoas do que o câncer
e os problemas cardíacos, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Atualmente, mais de 450 milhões de pessoas são afetadas por transtornos mentais
diversos, a maioria delas nos países em desenvolvimento. Nos últimos 10 anos,
de acordo com a OMS, o número de diagnósticos em crianças entre 6 e 12 anos
passou de 4,5 para 8%.
O diagnóstico da depressão é baseado nos
critérios estipulados pelo Manual de Estatística e Diagnóstico de Transtornos
Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), que exige a existência de pelo menos cinco dos sintomas determinados
pelo documento, com durabilidade de duas semanas, para comprovação do quadro. Entretanto, em crianças em plena fase de desenvolvimento da personalidade,
a aplicação do diagnóstico pode ser mais complexa e delicada.
Estão completamente
erradas as pessoas que dizem: “crianças
não ficam deprimidas porque não têm problemas”. E quem disse que
precisa de problemas para ter depressão? Os problemas trazem tristeza,
ansiedade e angústia. É claro que as vivências podem agravar nosso estado de
humor, mas depressão é outra coisa. É uma doença, um transtorno do afeto, é um
desarranjo cerebral funcional e tem uma base bioquímica.
O Transtorno
Depressivo Infantil é
um quadro sério e capaz de comprometer o desempenho, o desenvolvimento e a
maturidade psicossocial. A maior dificuldade no diagnóstico, estudo e
tratamento da depressão infantil é proporcionada pela descrença na
existência da doença. Essa descrença foi influenciada fortemente pelo excesso
de psicologismo dos autores que atribuíam à depressão uma origem
exclusivamente vivencial, juntamente com o pouco conhecimento desses mesmos
autores sobre os fatores biológicos das depressões.
Ela
existe, de verdade, e continua fazendo vítimas na mesma proporção em que
profissionais que lidam com crianças, pais e, principalmente avós, teimam em
achar que criança não fica
deprimida.
Outro fator que compromete
o entendimento da depressão infantil é a grande diferença entre seus sintomas e
os sintomas da depressão do adulto. A criança não consegue ter essa consciência e sua depressão só
pode ser indiretamente suspeitada através de seu comportamento. Nissen,
em 1983, relacionou os principais comportamentos que caracterizavam a depressão
infantil. Eram eles:
1 - Humor instável,
2 - Autodepreciação,
3 - Agressividade ou
irritação,
4 - Distúrbios do sono,
5 - Queda no desempenho
escolar,
6 - Diminuição da
socialização,
7 - Modificação de atitudes
em relação à escola,
8 - Perda da energia
habitual, do apetite e/ou do peso.
As crianças mais novas,
devido à incapacidade para comunicar verbalmente seu verdadeiro estado
emocional, manifestam a depressão de forma mais atípica ainda, notadamente com hiperatividade. È preciso ter um cuidado especial e fazer o
diagnostico diferencial de outros transtornos como, por exemplo, Distúrbios de Conduta, Ansiedade de
Separação na Infância, bem como verificar o meio em que ela vive e
se desenvolve, pois meio familiar turbulento e/ ou violento também podem gerar
hiperatividade, e até mesmo, por conseguinte levar a depressão. Deve se
respeitar também as características pessoais da criança, pois uma pode ser mais
agitada que as outras, e isso é um comportamento de um desenvolvimento normal da
criança, devemos estar atentos principalmente quando o comportamento e as
atitudes mudam significantemente de um momento para o outro, essas mudanças são
de extrema importância.
É PRECISO TER MUITA ATENÇÃO UMA VEZ QUE OS
FATORES EXTERNOS PODEM SER CONFUNDINDOS COM OS SINTOMAS!
Do ponto de vista biológico,
a depressão é encarada como uma possível disfunção dos neurotransmissores e
neuroreceptores, com fortes evidências de fatores genéticos ou falhas em áreas
cerebrais específicas. Antigamente classificava-se esse tipo de depressão como
sendo endógena, ou seja, de natureza
constitucional. Embora as classificações não utilizem mais esses termos, o
conceito de Depressão Endógenapermanece
verdadeiro e esse é o tipo de depressão que afeta as crianças com mais
freqüência.
Além desse tipo de
depressão existe aquela de natureza psicológica, associada às vivências e
aspectos psicodinâmicos da personalidade. Na perspectiva social a depressão
pode representar uma desadaptação, geralmente conseqüência de alteração
dos mecanismos culturais, familiares, escolares, etc. Nesse caso, as variáveis
psicológicas e sociais caracterizam um tipo de depressão
anteriormente chamada de Depressão
Exógena, ou seja, a depressão que representa uma reação a problemas
psicológicos.
É muito
importante saber que existem momentos nos quais as crianças podem estar
tristes, irritadas ou aborrecidas em resposta a vivências
circunstanciais. Essas manifestações emocionais nada têm a ver com depressão,
pois são fisiológicas, fugazes e passageiras. Entretanto, pode-se
suspeitar de algum componente depressivo quando essas manifestações de aborrecimento,
birra, irritação, inquietação ou outros rompantes são constantes e freqüentes,
quase caracterizando uma maneira dessa criança ser e reagir.
O tratamento da criança
deve ser iniciado o mais precoce possível, antecedido por avaliação do grau da
depressão e possível definição do tipo e tempo do tratamento. Para as crianças
mais novas, pré-escolares, se a depressão for mais leve recomenda-se a terapia
cognitivo-comportamental
Nos casos de depressão
mais severa deve-se indicar um tratamento psicológico mais intensivo e muitas
vezes medicamentoso.
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